sábado, 16 de julho de 2022

Projeções telepáticas - CAP VI

 

Quando o homem já não tiver segredos, quando se lhe puder ler no cérebro os pensamentos, ele não mais se atreverá a pensar no mal e, por conseguinte, a fazer o mal. Assim, a alma humana elevar-se-á sempre, subindo pela escala dos desenvolvimentos infinitos. Tempos virão em que a inteligência há de predominar cada vez mais, desembaraçando-se da crisálida carnal, estendendo, afirmando o seu domínio sobre a matéria, criando com os seus esforços meios novos e mais amplos de percepção e manifestação. Apurando-se, por sua vez, os sentidos, verão eles ampliar-se-lhes o círculo de ação. O cérebro humano tornar-se-á um templo misterioso, de vastas e profundas naves, cheias de harmonias, vozes e perfumes, instrumento admirável ao serviço de um Espírito que se tornou mais sutil e poderoso. _______Leon Denis em O Problema do Ser do Sestino e da Dor

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Vida Espiritual

 

“A vida espiritual, de maravilhosa beleza, não faz esquecer os nossos amigos terrenos. Por felizes que sejamos, por indizíveis que sejam os gozos que nos embriagam, sempre e sem cessar somos atraídos para o lugar onde transcorreu a nossa última existência, para todos aqueles a quem nos unem os laços de uma afeição fraterna, para junto de vós, enfim, ó bem-amados.

“Sim, pensamos em vós, mesmo das alturas mais inacessíveis a que se possa elevar o pensamento! Vimos até onde estais para vos repetir, num eco distante, que deveis esperar e amar acima de tudo, por muito rude, por muito árida que seja a vida. A esperança e o amor vertem, na existência, a linfa do esquecimento. Dão a coragem, a vontade forte que nos permitem arrostar de ânimo sereno a tempestade. Mas, venha a calma após a borrasca, venha a hora do repouso benéfico e sentireis que nas vossas veias circula a eterna felicidade celeste, que Deus espalha sem medida pelos pobres humanos.

“O tempo, às vezes, vos parece bem longo. De nós esperais as menores comunicações com impaciência e também com uma espécie de curiosidade, e cheios de vaga esperança de que elas vos venham revelar alguma coisa do mistério dos mundos.

“A Providência, porém, sabe que as revelações não seriam compreendidas. Não! A hora ainda não soou! As frases que vos possamos transmitir ficarão sendo, por enquanto, meras frases; exortações à prática do bem, certamente! Cumpre orientar para o melhor as pobres almas sofredoras. Pela doçura, pela bondade, deveis chamar ao vosso seio os irmãos incrédulos. E podeis também, pela caridade, fazer-lhes entrever a meta sublime para a qual deve tender a vida.

“A vida continua, bem o sabeis. Só muda a forma. Todavia, não muda demasiado rápido, porquanto, durante largo tempo, nos conservamos terrestres." 

Eduardo Petit.”

(Morto a 15 de setembro de 1910,

Praça de Vaugirard, 2 - Paris.)


quinta-feira, 29 de outubro de 2020

A Prece

 

A prece deve ser uma expansão íntima da alma para com Deus, um colóquio solitário, uma meditação sempre útil, muitas vezes fecunda. É, por excelência, o refúgio dos aflitos, dos corações magoados. Nas horas de acabrunhamento, de pesar íntimo e de desespero, quem não achou na prece a calma, o reconforto e o alivio a seus males? Um diálogo misterioso se estabelece entre a alma sofredora e a potência evocada. A alma expõe suas angústias, seus desânimos; implora socorro, apoio, indulgência. E, então, no santuário da consciência, uma voz secreta responde: é a voz dAquele donde dimana toda a força para as lutas deste mundo, todo o bálsamo para as nossas feridas, toda a luz para as nossas incertezas. E essa voz consola, reanima, persuade; traz-nos a coragem, a submissão, a resignação estóicas. E, então, erguemo-nos menos tristes, menos atormentados; um raio de sol divino luziu em nossa alma, fez despontar nela a esperança.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Suicídio (Cornélio Pires)

 

Suicídio, não pense nisso
Nem mesmo por brincadeira…
Um ato desses resulta
Na dor de uma vida inteira.

Por paixão, Quim afogou-se
Num poço de Guararema.
Renasceu em provação
Atolado no enfisema.

Matou-se com tiro certo
A menina Dilermanda.
Voltou em corpo doente,
Não fala, não vê nem anda.

Pôs fogo nas próprias vestes
Dona Cesária da Estiva…
Está de novo na Terra
Num corpo que é chaga viva.

Suicidou-se à formicida
Maricota da Trindade…
Voltou… Mas morreu de câncer
Aos quatro meses de idade.

Enforcou-se o Columbano
para mostrar rebeldia…
De volta, trouxe a doença,
Chamada paraplegia.

Queimou-se com gasolina
Dona Lília Dagele.
Noutro corpo sofre sarna
Lembrando fogo na pele.

Tolera com paciência
Qualquer problema ou pesar;
Não adianta morrer,
Adianta é se melhorar.


O autocastigo



(J. Herculano Pires)

Deus não castiga o suicida, pois é o próprio suicida quem se castiga. A noção do castigo divino é profundamente modificada pelo ensino espírita. Considerando-se que o Universo é uma estrutura de leis, uma dinâmica de ações e reações em cadeia, não podemos pensar em punições de tipo mitológico após a morte. Mergulhado nessa rede de causas e efeitos, mas dotado do livre arbítrio que a razão lhe confere, o homem é semelhante ao nadador que enfrenta o fatalismo das correntes de água, dispondo de meios para dominá-las.

Ninguém é levado na corrente da vida pela força exclusiva das circunstâncias. A consciência humana é soberana e dispõe da razão e da vontade para controlar-se e dirigir-se. Além disso, o homem está sempre amparado pelas forças espirituais que governam o fluxo das coisas. Daí a recomendação de Jesus: “Orai e vigiai”. A oração é o pensamento elevado aos planos superiores – a ligação do escafandrista da carne com os seus companheiros da superfície – e a vigilância é o controle das circunstâncias que ele deve exercer no mergulho material da existência.

O suicida é o nadador apavorado que se atira contra o rochedo ou se abandona à voragem das águas, renunciando ao seu dever de vencê-las pela força dos seus braços e o poder da sua coragem, sob a proteção espiritual de que todos dispomos. A vida material é um exercício para o desenvolvimento dos poderes do Espírito. Quem abandona o exercício por vontade própria está renunciando ao seu desenvolvimento e sofre as consequências naturais dessa opção negativa. Nova oportunidade lhe será concedida, mas já então ao peso do fracasso anterior.

Cornélio Pires, o poeta caipira de Tietê, responde à pergunta do amigo através de exemplos concretos que falam mais do que os argumentos. Cada uma de nossas ações provoca uma reação da vida. A arte de viver consiste no controle das nossas ações (mentais, emocionais ou físicas) de maneira que nós mesmos nos castigamos ou nos premiamos. Mas mesmo no autocastigo não somos abandonados por Deus, que vela por nós em nossa consciência.

domingo, 18 de outubro de 2020

Legendas do Obreiro da Verdade _ Emmanuel


 


·  Compreender que as necessidades e as esperanças dos outros são fundamentalmente iguais às nossas.

·  Auxiliar sem exigir que o beneficiado nos tome as ideias.

·  Reconhecer que a Divina Providência possui estradas inúmeras para socorrer as criaturas e iluminá-las.

·  Aprender a tolerar com paciência as pequenas humilhações, a fim de prestar os grandes testemunhos de sacrifício pessoal que a Causa da Verdade lhe reclamará possivelmente algum dia.

·  Esquecer-se pela obra que realiza.

·  Guiar-se pela misericórdia e não pela crítica.

·  Abençoar sem reprovar.

·  Construir ou reconstruir, sem ofender ou condenar.

·  Trabalhar sempre sem o propósito de ser ou parecer o maior ou o melhor ante os demais.

·  Cultivar ilimitadamente a cooperação e a caridade.

·  Coibir-se de irritação e de azedume.

·  Agir sem criar problemas.

·  Observar que sem a disciplina individual no campo do bem, a prática do bem se faz impossível.

·  Respeitar a personalidade dos companheiros.

·  Encontrar ocasião para atender à bênção da prece.

·  Deter-se nas qualidades nobres e olvidar as prováveis deficiências do próximo.

·  Valorizar o esforço alheio.

·  Nunca perder tempo.

·  Apagar inimizades ou discórdias através da desculpa fraterna e do serviço constante que devemos uns aos outros.

·  Criar oportunidades de trabalho para si, ajudando aos outros no sentido de descobrirem as oportunidades de trabalho que lhes digam respeito à capacidade e às possibilidades de realização, conservando em tudo a certeza inalterável de que toda pessoa é importante na edificação do Reino de Deus.

Todos são importantes _ José Herculano Pires


Somos iguais perante a seara, porque somos todos iguais perante o Senhor da Seara. Deus não faz acepção de pessoas, nem de posições e muito menos de instituições. O item 5 do capítulo XX de O Evangelho Segundo o Espiritismo estabelece esta condição essencial: “Felizes os que tiverem trabalhado o campo do Senhor com desinteresse e movidos apenas pela caridade”. Emmanuel conclui a sua mensagem lembrando “que toda pessoa é importante na edificação do Reino de Deus”.

Querer que não haja discordâncias entre os que trabalham na divulgação e na sustentação da Doutrina seria acalentar quimeras. Cada consciência humana, como ensina Hubert, é um ponto na correnteza da duração. Cada um de nós está colocado num ângulo determinado do eterno fluir da realidade. Cada qual, portanto, tem a sua maneira própria de ver as coisas.

O Espiritismo nos ensina que nos completamos uns aos outros pelas nossas diferenças. Mas se diferimos nos acessórios, concordamos sempre no essencial. Por isso mesmo a caridade – que é o amor em ação – deve eliminar as arestas do nosso personalismo, ensinando-nos que todos somos importantes na busca e na conquista da verdade.

Claro que não devemos concordar com tudo e tudo aprovar em silêncio, pois a tolerância de acomodação equivale a cumplicidade com o erro. A crítica maldosa e orgulhosa, que condena tudo o que é feito pelos outros, é a negação da caridade. Mas ai de nós se suprimirmos a crítica do meio espírita! Porque é ela, quando sensata e sincera, a prática da vigilância que Jesus ensinou e Paulo exemplificou. Como utilizar o “crivo da razão”, de que nos fala Kardec, se abdicarmos do direito de pensar, que mais do que um direito é um supremo dever do espírito?

Quando Emmanuel diz: “Guiar-se pela misericórdia e não pela crítica” está se referindo à crítica negativa que nasce do orgulho e não à crítica positiva que brota espontânea e necessária do julgamento imparcial e fraterno, objetivando corrigir e portanto ajudar. O lema “valorizar o esforço alheio” não implica a valorização dos erros e dos enganos do próximo, mas o reconhecimento dos esforços feitos por todos a favor da causa comum. Todos precisamos de misericórdia, mas a misericórdia, como Deus nos mostra em sua lei de ação e reação, não é a aprovação de erros e ilusões – e sim a correção e o esclarecimento.