“A vida espiritual, de maravilhosa beleza, não faz esquecer os nossos amigos terrenos. Por felizes que sejamos, por indizíveis que sejam os gozos que nos embriagam, sempre e sem cessar somos atraídos para o lugar onde transcorreu a nossa última existência, para todos aqueles a quem nos unem os laços de uma afeição fraterna, para junto de vós, enfim, ó bem-amados.
“Sim, pensamos em vós, mesmo das alturas mais inacessíveis a que se possa elevar o pensamento! Vimos até onde estais para vos repetir, num eco distante, que deveis esperar e amar acima de tudo, por muito rude, por muito árida que seja a vida. A esperança e o amor vertem, na existência, a linfa do esquecimento. Dão a coragem, a vontade forte que nos permitem arrostar de ânimo sereno a tempestade. Mas, venha a calma após a borrasca, venha a hora do repouso benéfico e sentireis que nas vossas veias circula a eterna felicidade celeste, que Deus espalha sem medida pelos pobres humanos.
“O tempo, às vezes, vos parece bem longo. De nós esperais as menores comunicações com impaciência e também com uma espécie de curiosidade, e cheios de vaga esperança de que elas vos venham revelar alguma coisa do mistério dos mundos.
“A Providência, porém, sabe que as revelações não seriam compreendidas. Não! A hora ainda não soou! As frases que vos possamos transmitir ficarão sendo, por enquanto, meras frases; exortações à prática do bem, certamente! Cumpre orientar para o melhor as pobres almas sofredoras. Pela doçura, pela bondade, deveis chamar ao vosso seio os irmãos incrédulos. E podeis também, pela caridade, fazer-lhes entrever a meta sublime para a qual deve tender a vida.
“A vida continua, bem o sabeis. Só muda a forma. Todavia, não muda demasiado rápido, porquanto, durante largo tempo, nos conservamos terrestres."
Eduardo Petit.”
(Morto a 15 de setembro de 1910,
Praça de Vaugirard, 2 - Paris.)